Você sente prazer, mas não sente alívio.
O toque, o descanso, a conquista — tudo parece certo. Mas, por dentro, algo permanece em tensão. Como se a entrega total ao prazer ainda fosse um risco.
Este artigo — dividido em duas partes — mergulha nas bases somáticas da dor oculta, com base na visão de Bessel van der Kolk, referência mundial em trauma e memória corporal. Vamos explorar como o corpo, mesmo após anos de evolução emocional e espiritual, pode continuar reagindo como se o perigo ainda existisse. E por que o prazer, nesses casos, deixa de ser libertação… para se tornar mais uma armadilha emocional.
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Quando o prazer se transforma em alerta — a origem corporal da autodefesa
Para muitos, prazer e tensão andam juntos. Você relaxa por alguns segundos e logo depois sente culpa, medo ou desconexão. Isso não é coincidência — é padrão somático. É o corpo reagindo com base em experiências passadas que ainda não foram integradas.
Bessel van der Kolk explica que o trauma não está apenas no evento que aconteceu, mas na forma como o corpo precisou reagir para seguir funcionando após ele. Se a dor foi ignorada, congelada ou mal compreendida, ela se instala no corpo como padrão de proteção.
E o corpo, diferente da mente, não esquece.
Você pode entender tudo racionalmente — mas seu corpo reage antes do pensamento.
Entra numa sala e sente desconforto.
Recebe uma mensagem e o estômago aperta.
Alguém te toca e seu corpo endurece.
São memórias emocionais agindo fora do seu controle consciente.
É por isso que muitos confundem prazer com fuga.
O que parece prazer é, na verdade, busca por alívio.
E alívio é o que se procura quando há dor constante.
Esse prazer anestésico não nutre — apenas suspende temporariamente o incômodo.
Depois, ele cobra. Com cansaço. Com vazio. Com culpa.
Você precisa de mais intensidade para sentir algo. E mesmo assim… não se sente inteiro.
Segundo a Teoria Polivagal, de Stephen Porges, o trauma prende o sistema nervoso em estados de alerta contínuo — luta, fuga ou congelamento. E nesses estados, o prazer profundo é impossível. Porque o prazer real exige segurança. Entrega. Relaxamento.
Prazer sem segurança emocional é só mais uma forma de fugir de si
Se você cresceu aprendendo que prazer traz punição, abandono ou vergonha, seu corpo internalizou essa relação. Mesmo que hoje o contexto tenha mudado, o corpo ainda age como se o prazer fosse perigoso.
É assim que se criam os contratos invisíveis com a dor:
Você se permite sentir algo bom, mas já espera algo ruim depois.
Você não confia na paz. Espera a queda.
Você vive em alerta, mesmo nos momentos bons.
Essa lógica é exaustiva — e profundamente inconsciente.
Não é o prazer que te esgota.
É a guerra invisível que acontece dentro de você toda vez que tenta se entregar.
É o corpo dizendo: “isso não vai durar”, “cuidado”, “não relaxa demais”.
E essa guerra não acaba com mais prazer.
Ela termina quando o corpo começa a confiar que o presente é diferente do passado.
E isso exige uma reeducação emocional: pausada, sensível, encarnada.
Como ensinar seu corpo que o prazer é seguro — a base da regulação emocional profunda
A chave não está em buscar mais prazer, mas em ensinar o corpo que ele não precisa mais se proteger.
Isso começa com presença somática, e não com técnicas mentais.
Quando o prazer ativa culpa, medo ou vigilância, o sistema está dizendo: “algo aqui ainda não foi curado”.
E, na maioria dos casos, o corpo associa o prazer a alguma perda passada — seja de amor, de controle ou de pertencimento.
É por isso que relaxar pode ser mais difícil do que lutar.
Prazer sem segurança vira compulsão.
Você come, mas se sente pesado.
Você ama, mas não relaxa.
Você medita, mas sente angústia.
Não é o prazer que está errado — é o corpo que ainda não consegue sustentá-lo com confiança.
Segundo Bessel van der Kolk, um dos maiores sinais da cura do trauma é quando o corpo começa a sentir prazer com naturalidade, sem vigilância.
E isso só acontece quando ele aprende, com experiências reais, que agora é seguro relaxar.
Segurança emocional: o que o corpo precisa para sair do modo sobrevivência
Para sair do estado de hipervigilância, o corpo precisa de referências de segurança emocional que sejam vividas — não explicadas.
Pequenos momentos fazem diferença:
Um toque sem intenção de correção.
Um suspiro profundo sem culpa.
Uma pausa respeitada sem cobrança.
É nesses gestos simples que o corpo vai aprendendo:
“Agora é diferente. Agora posso confiar.”
Essa confiança não se impõe. Se oferece.
Ela nasce quando você não força o prazer, mas cria espaço para ele florescer.
E esse espaço inclui o desconforto. Inclui o “não”. Inclui o tempo do corpo.
Segurança não é ausência de dor.
É permissão para sentir sem punição.
Quando o corpo aprende que não será castigado por sentir prazer, ele começa a se abrir. Aos poucos.
É assim que a entrega acontece: sem euforia, sem compulsão, sem cobrança.
Apenas como um fluxo — suave, inteiro, confiável.
Prazer como fluxo, não como fuga: a espiritualidade do corpo em paz
A espiritualidade verdadeira começa no corpo.
Não é transcender. É descer.
É reaprender a habitar o corpo como um lar, não como uma prisão.
Thich Nhat Hanh dizia:
“O verdadeiro milagre não é andar sobre as águas, mas sim andar com consciência sobre a terra.”
No corpo, isso significa poder sentir prazer sem medo do depois.
Sentir e permanecer. Sentir e confiar.
Prazer autêntico não é um prêmio.
É o resultado natural de um sistema regulado.
De um corpo que se sente inteiro, mesmo com limites.
Que sabe pausar. Que sabe recuar. Que sabe dizer sim — sem tensão.
É por isso que a verdadeira cura não é sobre eliminar sintomas.
É sobre criar uma nova ecologia interna.
Onde a dor não domina.
Onde o prazer não precisa justificar sua presença.
Onde o corpo não precisa mais lutar para ser escutado.
Assista ao vídeo completo no canal O Poder do Ser
Se esse conteúdo te ajudou a dar nome ao que o corpo sente em silêncio, assista ao vídeo completo no canal O Poder do Ser:
“Seu Corpo é o Campo de Batalha Entre Dor e Prazer | Bessel van der Kolk”
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