Você Sofre Pela Ausência ou Pelo Alívio Que a Pessoa Representava? Entenda com Gabor Maté

Muitas vezes, acreditamos que estamos sofrendo por amor — quando, na verdade, estamos em abstinência de algo muito mais profundo: o alívio que alguém representava no meio de uma dor antiga. Neste artigo, vamos explorar, com base nos estudos de Gabor Maté, como o corpo e o sistema nervoso confundem alívio emocional com amor verdadeiro — e por que isso prende você em ciclos de apego e sofrimento.
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Por que o corpo se apega a quem oferece alívio emocional

Você não ama a pessoa — ama o alívio
O que chamamos de amor pode, na verdade, ser a sensação de respiração emocional que alguém trouxe. Para quem vive em estado constante de alerta interno, a simples presença de alguém minimamente acolhedor pode ser interpretada pelo corpo como salvação. Isso não é loucura — é neurofisiologia.

Trauma e escolha relacional: quem escolhe é a dor não resolvida
Segundo Gabor Maté, não é a pessoa que escolhemos — é a nossa dor que decide. O corpo busca, inconscientemente, quem representa um alívio à dor original. E é por isso que relações tóxicas ou desiguais se tornam viciantes: não pelo que são, mas pelo que regulam temporariamente.

A primeira trégua emocional e o engano do sistema nervoso
Talvez o momento de “alívio” tenha vindo num gesto simples, um olhar, uma forma diferente de presença. Para quem tem histórico de abandono, esse tipo de gesto vira âncora afetiva. Mesmo que a relação depois se torne disfuncional, o corpo já associou aquele alguém à sobrevivência.

Regulação não é amor — mas o corpo não sabe disso
Aqui mora a confusão: quando sentimos alívio, achamos que é amor. Quando alguém nos acalma, acreditamos que nos ama. Mas o corpo está apenas se autorregulando com base em uma memória afetiva. A dor da perda, então, não é da pessoa — é do sistema de regulação que ela simbolizava.

Por que dói tanto quando essa pessoa vai embora?
Porque junto com ela, vai embora a sensação de apoio emocional que você nunca teve na infância. Vai embora a falsa certeza de que, agora, você era digno de paz. E tudo dentro de você volta a gritar: o medo, o abandono, a invisibilidade.

Idealização afetiva: a armadilha da esperança projetada
Carl Jung já dizia: somos feitos do que nos falta. E o que falta, a gente projeta. Projetamos amor onde havia função. Projetamos conexão onde só havia trégua emocional. E quanto mais carente foi sua infância emocional, maior a fantasia que você joga sobre o outro.

Como se libertar de vínculos baseados em alívio e reencontrar sua autonomia emocional

Você sente falta da pessoa ou da regulação que ela oferecia?
Após o término de uma relação marcante, é comum sentir um vazio intenso. Mas a pergunta precisa ser refinada: você sente saudade do outro, ou do modo como ele fazia seu corpo silenciar o desconforto? Muitas vezes, a dor da ausência vem da volta do caos interno que estava apenas suspenso. A pessoa funcionava como uma pausa emocional, não necessariamente como um amor real.

Não é carência — é coerência neuroafetiva
A dor que você sente é legítima. Não significa que você seja fraco ou emocionalmente dependente. Significa que seu corpo aprendeu a se reorganizar ao redor de um outro corpo. Quando esse vínculo se rompe, não é só o relacionamento que termina: a estrutura emocional que estava apoiada nele também entra em colapso.

Stephen Porges e a teoria polivagal: a busca por segurança no vínculo
De acordo com Stephen Porges, criador da Teoria Polivagal, nosso sistema nervoso busca constantemente por sinais de segurança relacional. E quando encontramos uma pessoa que oferece um mínimo de previsibilidade emocional, mesmo que inconsistente, o corpo se agarra a isso. É a nossa fisiologia dizendo: “fique aqui, é mais seguro do que estar só.”

Quando o outro vira suporte simbólico
Se você nunca teve uma presença estável na infância — alguém que acolhesse sua dor sem invalidá-la — qualquer figura que ofereça esse tipo de cuidado, ainda que parcial, vira suporte simbólico. O problema? Você passa a depender dessa pessoa para sentir estabilidade. E o nome disso não é amor. É sobrevivência emocional.

A raiz da repetição: tentar consertar o passado no presente
Muitos vínculos afetivos são tentativas inconscientes de resolver dores antigas. Você se conecta com alguém não pelo que ele é hoje, mas pela promessa simbólica de que, dessa vez, não será rejeitado. É um retorno emocional à infância, mas com o desejo secreto de mudar o final da história. E isso, inevitavelmente, traz sofrimento.

O caminho de saída começa no reconhecimento
A libertação emocional não começa com o corte do vínculo. Começa com o reconhecimento do que esse vínculo representava. Ele te fazia sentir visto? Te oferecia silêncio seguro? Te poupava do esforço constante de parecer bem? Quando você nomeia essas funções, pode começar a separar o que era sobre o outro — e o que era sobre você.

Reaprender a regular-se sem um anestésico emocional
Isso exige prática. Exige desconforto. E exige ficar consigo mesmo nos momentos em que tudo dentro quer correr. Mas é nesse “ficar” que nasce algo novo: a possibilidade de gerar segurança a partir de dentro. Não como um fechamento ao mundo, mas como uma base mais firme para se vincular com consciência.

A verdadeira presença não traz alívio imediato — traz enraizamento
Amor maduro não é o que silencia a dor, mas o que permanece ao lado dela. Não é o que te arranca da sombra, mas o que caminha contigo até que você se sinta pronto para ver a luz. Esse tipo de amor não causa euforia. Causa quietude. E é justamente por isso que, no início, ele assusta.

Transformar o padrão: do vício em alívio à presença real
Romper com padrões antigos exige que você abra mão do alívio rápido para cultivar a presença lenta. Significa trocar a intensidade pelo contato verdadeiro. A fantasia pelo corpo presente. A promessa pela construção. E isso não acontece num salto. Acontece aos poucos — quando você começa a ver que não precisa mais mendigar presença para sentir que existe.

Conclusão: pare de chamar alívio de amor
É hora de ressignificar o que você viveu. Sem culpa, sem vergonha, sem romantização. Amar o que alguém representava é humano. Mas seguir preso nisso é se abandonar. O reencontro começa quando você percebe que não quer mais um relacionamento que funcione como anestesia, e sim como espaço de verdade.

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Assista agora e dê o primeiro passo rumo ao amor que começa em você.